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A guerra da Rússia com a Ucrânia gerou a sua própria névoa, e erros

Aug 29, 2023

TALLINN, Estónia (AP) – Nos campos de batalha da Ucrânia, o nevoeiro da guerra assola os soldados. E longe dos combates, um miasma relacionado e igualmente desorientador aflige aqueles que procuram compreender o que está a acontecer na vasta guerra.

A desinformação, a desinformação e a ausência de informação obscurecem a compreensão dos civis. Oficiais de cada lado denunciam conspirações tortuosas preparadas pelo inimigo, que nunca se materializam. Eles reivindicam vitórias que não podem ser confirmadas – e ficam calados sobre as derrotas.

Nada disto é exclusivo do conflito Rússia-Ucrânia. Qualquer nação em guerra distorce a verdade – para aumentar o moral na frente interna, para reunir o apoio dos seus aliados, para tentar persuadir os seus detratores a mudarem de posição.

Mas a maior guerra terrestre da Europa em décadas – e a maior desde o início da era digital – está a decorrer num espaço de informação sobreaquecido. E a moderna tecnologia de comunicação, teoricamente uma força para melhorar o conhecimento público, tende a multiplicar a confusão porque os enganos e as falsidades atingem o público instantaneamente.

“O governo russo está a tentar retratar uma certa versão da realidade, mas também está a ser divulgada pelo governo ucraniano e pelos defensores da causa da Ucrânia. E essas pessoas atualmente também têm opiniões e estão a utilizar a informação de forma muito eficaz para tentar moldar todas as nossas opiniões sobre a guerra e o seu impacto", afirma Andrew Weiss, analista da Fundação Carnegie para a Paz Internacional.

O 'NÉVOO' NÃO É UM NOVO DESENVOLVIMENTO

Mesmo antes do início da guerra, a confusão e a contradição eram abundantes.

A Rússia, apesar de reunir dezenas de milhares de soldados na fronteira, afirmou que não tinha intenção de invadir. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, minimizou consistentemente a probabilidade de guerra – uma posição alarmante para alguns aliados ocidentais – embora a defesa de Kiev tenha mostrado que as forças ucranianas estavam bem preparadas justamente para essa eventualidade.

Um dia após o início da guerra, em 24 de fevereiro de 2022, a desinformação se espalhou, principalmente a história do “Fantasma de Kiev” sobre um piloto de caça ucraniano que abateu seis aviões russos. A origem da história não é clara, mas foi rapidamente apoiada por relatos oficiais ucranianos antes que as autoridades admitissem que era um mito.

Um dos casos mais flagrantes de desinformação surgiu na segunda semana da guerra, quando uma maternidade na cidade sitiada de Mariupol foi bombardeada pelo ar. Imagens tiradas por um fotógrafo da Associated Press, que tinha a única equipa de notícias estrangeira na cidade, chocaram o mundo, especialmente a de uma mulher grávida a ser carregada numa maca pelas ruínas.

O ataque brutal foi contra as alegações russas de que estava a atingir apenas alvos de valor militar e a evitar instalações civis. A Rússia lançou rapidamente uma campanha multifacetada e pouco coerente para conter a indignação.

Diplomatas, incluindo o embaixador da Rússia na ONU, denunciaram as reportagens e imagens da AP como totalmente falsas. Alegou que um paciente entrevistado após o ataque – que estava de pé e parecia ileso – e a mulher na maca eram a mesma pessoa e que ela havia atuado em crises. O ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, alegou que os combatentes ucranianos estavam abrigados no hospital, tornando-o um alvo legítimo.

A paciente entrevistada turvou a situação ao afirmar mais tarde que não tinha dado permissão aos jornalistas para citá-la e dizendo que não tinha ouvido aviões sobrevoando o hospital antes das explosões, sugerindo que este poderia ter sido bombardeado em vez de bombardeado. As autoridades russas aproveitaram essas declarações para reforçar as suas reivindicações, embora a mulher tenha confirmado que o ataque em si era real.

Uma semana mais tarde, o principal teatro de Mariupol foi destruído num ataque aéreo, embora a palavra “crianças” estivesse escrita em russo em letras grandes em dois pontos à volta do teatro para mostrar que os civis estavam ali abrigados. A explosão matou cerca de 600 pessoas.

A Rússia negou o ataque, alegando novamente que os combatentes ucranianos estavam abrigados no interior e que os próprios combatentes explodiram o edifício.